Filmes em debate
Tropa de elite
Muitas vozes em cada ser
Em Tropa de Elite, o dia-a-dia do grupo de policiais e de um capitão do BOPE (Wagner Moura), que quer deixar a corporação e tenta encontrar um substituto para seu posto. Paralelamente dois amigos de infância se tornam policiais e se destacam pela honestidade e honra ao realizar suas funções, se indignando com a corrupção existente no batalhão em que atuam.
Tropa de elite: muitas vozes em cada ser
“[...] o poder mais se exerce do que se possui”. (Michel Foucault)
A ordem é dada por um dos superiores que grita: “Vai!”. O grupo se lança ao centro do círculo no chão, local onde se encontra o almoço e, como ferozes animais famintos, num frenesi alimentar, quase todos apanham com as mãos o que podem a fim de saciar a fome, debaixo de um sol desgastante. O tumulto e a voracidade são evidentes na construção de imagens que parecem, no movimento ágil da câmera, meio fora de foco.
No centro de toda essa movimentação, a comida. Alimentos simbolizados que na vida diária, imbricada com a sociabilidade, carreiam ideias e significados, com interpretações de experiências e situações. A noção de sociabilidade assume o lugar de um sentido bem próximo do ditado popular “Cada um por si e Deus por todos”.
O diretor do filme seleciona, para esse momento de grande tensão, a fala do Capitão Nascimento que, ao se dirigir ao grupo, ordena: “Quando os senhores acabarem de almoçar, eu vou querer ver esse chão limpo! Os senhores entenderam?”.
Falando a respeito (vídeos):
"A sujeição, a submissão, a humilhação, o rebaixamento à condição animal como expressão dos jogos de poder. Esses mesmos aspirantes que agora submissos, comem o pior e o mais repulsivo, tornam-se homens fortes, capazes de enfrentar as mais graves adversidades, homens que serão ao mesmo tempo verdadeiros bandidos e mocinhos, vilões e super-heróis modernos do asfalto e da favela."
Sugestões de leitura
Entre a transparência e a opacidade: um estudo enunciativo do sentido | J. Authier-Revuz
AUTHIER-REVUZ, J. Entre a transparência e a opacidade: um estudo enunciativo do sentido. Porto Alegre: EDIPUCRS, 2004.
Estética da criação verbal | M. Bakhtin
BAKHTIN, M. Estética da criação verbal. São Paulo: Martins Fontes, 2011.
O texto e a construção dos sentidos | Ingedore G. Villaça Koch
KOCH, Ingedore G. Villaça. O texto e a construção dos sentidos. São Paulo: Contexto, 2013.
Os lugares do sentido | Hugo Mari
MARI, Hugo. Os lugares do sentido. Campinas, SP: Mercado das Letras, 2008
Palavras incertas: as não-coincidências do dizer | J. Authier-Revuz
AUTHIER-REVUZ, J. Palavras incertas: as não-coincidências do dizer. Campinas: Editora da UNICAMP, 1998.
Vigiar e punir: nascimento da prisão | Michel Foucault
FOUCAULT, M. Vigiar e punir: nascimento da prisão. Petrópolis, RJ: Vozes, 2011.
Sobre o sentido | A. J. Greimas
GREIMAS, A. J. Sobre o sentido. Petrópolis: Vozes, 1975.
Análise de textos de comunicação | Dominique Maingueneau
MAINGUENEAU, Dominique. Análise de textos de comunicação. São Paulo: Cortez, 2011.