Filmes em debate
A caça
Uma metáfora da identidade deteriorada do professor
Lucas (Mads Mikkelsen) trabalha em uma creche. Simpático e amigo de todos, ele tenta reconstruir a vida após um divórcio complicado, no qual perdeu a guarda do filho. Tudo corre bem até que, um dia, a pequena Klara (Annika Wedderkopp), de apenas cinco anos, diz à diretora da creche que Lucas lhe mostrou suas partes íntimas. Klara na verdade não tem noção do que está dizendo, apenas quer se vingar por se sentir rejeitada em uma paixão infantil que nutre por Lucas. A acusação logo faz com que ele seja afastado do trabalho e, mesmo sem que haja algum tipo de comprovação, seja perseguido pelos habitantes da cidade em que vive.
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As cenas finais do filme apresentam um momento de comensalidade que aparentemente é agradável.
Neste ensaio refletimos sobre a identidade transformada (e deteriorada) do professor na sociedade contemporânea brasileira exemplificando com iniciativas/tentativas recentes de cerceamento da prática docente inspirados no filme A caça, cujo subtítulo é A mentira está se espalhando.
Em A caça, filme ambientado numa cidadezinha dinamarquesa, a história se desenvolve em torno do personagem Lucas, interpretado por Mads Mikkelsen, um professor que atuava em uma instituição de educação infantil pré-escolar, a quem é atribuída uma desconcertante e falsa, acusação de abuso sexual.
Esta falsa acusação teve origem em um comentário de Klara, uma menina de cinco anos, junto à diretora deste estabelecimento de ensino onde estuda. Não menos relevante é o fato da menina ser filha de seu melhor amigo. Por esta razão fundada em preconcepções em torno deste acontecimento, o professor passa a ser alvo de perseguição violenta e “caçado” por toda a comunidade na medida em que a mentira se espalhou pela localidade. O ponto de partida do roteiro coloca em questão dois grandes equívocos, o primeiro é o pressuposto que houve o abuso sexual levando à condenação moral sumária por parte da direção da escola e, consequentemente, da sociedade local. O segundo é a noção implícita de que “crianças não mentem” e não possuem sexualidade, desejo ou fantasias. Estas premissas do filme nos inspiraram a olhar para uma realidade próxima como a da sociedade brasileira na qual também são reportados casos de julgamento antecipado dos profissionais de ensino sujeitos a condenações com base em preconcepções duvidosas.
Falando a respeito (vídeos):
"No contexto do filme, as cenas de caça também podem ser interpretadas como sinal de força e poder com muitas tonalidades, contornos e sentidos. A reação dos locais de ‘caçar o professor’ considerado desviante atinge o clímax na formidável mudança de mira da arma antes apontada para o animal nas cenas finais. Esta guinada na perspectiva da prática de caçar animais reforça significativamente a ideia de perseguição ao professor (envolvendo seu filho) que se torna o alvo."
Sugestões de leitura
História social da criança e da família | Philippe Ariès
ARIÈS, P. História social da criança e da família. Rio de Janeiro: LTC, 1978.
A síndrome de Burnout em professores do ensino regular | G. C. T. M. Levy; F. P Nunes Sobrinho
LEVY, G. C. T. M.; NUNES SOBRINHO, F. P. A síndrome de Burnout em professores do ensino regular: pesquisa, reflexões e enfrentamento. Rio de Janeiro: Cognitiva, 2010.
Caso Escola Base: os abusos da imprensa | Alex Ribeiro
RIBEIRO, Alex. Caso Escola Base: os abusos da imprensa. São Paulo: Ática, 1995
O processo civilizador: uma história dos costumes | Norbert Elias
ELIAS, N. O processo civilizador: uma história dos costumes. Rio de Janeiro: Zahar, 1994.
Na medida da pessoa humana: estudos de direito civil | Maria Celina Bodin de Moraes
MORAES, M. C. B. Na medida da pessoa humana: estudos de direito civil. Rio de Janeiro: Renovar, 2015.
Danos à Pessoa Humana: uma Leitura Constitucional dos Danos Morais | Maria Celina Bodin de Moraes
MORAES, Maria Celina Bodin de. Danos à Pessoa Humana: uma Leitura Constitucional dos Danos Morais. Rio de Janeiro: Processo, 2016.